POR ALESSANDRO SILVA
É de inclusão que se vive a vida. Para Paulo Freire, é
assim que os homens aprendem, em comunhão. “O homem se define pela capacidade e
qualidade das trocas que estabelece” e isso não seria diferente com os
portadores de necessidades especiais.
Inseridos numa sociedade que exige saber conviver para
sobreviver, necessitamos cada vez mais nos esforçar para garantir a inclusão
deles, desde os primeiros anos de idade, em todos os espaços sociais, e a
escola
não está à parte desse espaço.
É fato que ao longo da vida, em nossas tantas lutas
adaptativas, encontramos pessoas que nos facultam apoio e formação, seja de
caráter ou de conhecimento teórico, para seguirmos nosso caminho. Não poderia
ser diferente na educação formal. Assim, é que no âmbito escolar – em sala de
aula, no pátio, no refeitório, enfim, em cada parte o professor tem papel
decisivo e de imensa responsabilidade nesse processo..
Não basta que haja numa escola a proposta de inclusão,
não basta que a arquitetura esteja adequada. É claro que estes são fatores
favoráveis, mas não fundamentais. É preciso que o coração esteja aberto para
socializar-se e permitir-se interagir. E, como quem semeia com o tesouro do
conhecimento, que refaz e constrói, é o professor que alavancará os recursos
insubstituíveis para uma educação inclusiva de qualidade.
Para isso, portanto, seu coração também precisa estar
aberto. Ele igualmente terá que acreditar e se ver em processo de inclusão
permanente, terá que criar e recriar oportunidades de convivência, provocar
desafios de interação e aproximação, estabelecer contatos com os diversos e
distintos saberes, planejando de forma flexível, mas objetiva, entendendo que a
comunhão, a busca do semelhante e o reconhecimento de que ninguém detém um
saber favorecem a troca, a parceria e a segurança de uma inclusão com
qualidade.
Se o professor acreditar que incluir é destruir barreiras
e que ultrapassar as fronteiras é viabilizar a troca no processo de construção
do saber e do sentir, ele exercerá seu papel, fundamental, para assegurar a
educação inclusiva que todos nós desejamos, semeando assim um futuro que
sugerirá menos discriminação e mais comunhão de esforços na proposta de
integrar e incluir.
Para empreender essa transformação, a escola assume um
papel fundamental, em que se destaca sua função educativa, que vai muito além
da formação acadêmica, pois implica a formação moral, ética, estética e política.
Assim, a escola pode e deve constituir-se num espaço de relações sociais
comprometido com a formação indispensável ao exercício da cidadania.
Afinal, numa sociedade onde a crescente falta de respeito
a si e ao outro se exterioriza em discriminação negativa, competição,
corrupção, marginalização e exclusão; onde a solidariedade, tolerância,
aceitação e cooperação têm sido atitudes raras, em suas variadas instâncias, e
a ética tem sido algo cada vez mais distante e desconhecida nas relações
humanas, por certo muito se espera da escola. Neste sentido, os princípios da
educação inclusiva estão intrinsecamente relacionados com este papel mais
formativo e ético da escola, que busca incentivar a cidadania do seu aluno.
A educação inclusiva, na medida em que promove um ensino
respeitoso e com significado para cada educando, favorece o desenvolvimento da
consciência de que todos são igualmente beneficiários de direitos e deveres e
incentiva a permanência dos alunos.Crochík (2002, p. 295) salienta que,
compartilhar atividades de crianças com deficiência permitiria às demais “…
auxiliar os que não sabem com o seu saber e aprender pela própria experiência,
os seus limites e o dos outros, [experiências que] podem dar-lhes algo que a
busca da perfeição impede: o entendimento da vida e a possibilidade de
vivê-la”.
Publicação autorizada.
Alessandro Lopes Silva, natural de Teresópolis/RJ. Graduado em História pela Universidade Norte do Paraná, é membro da Academia de Letras do Brasil-Teresópolis. Autor de vários artigos é do livro "Contos do interior lendas do Brasil". Colunista da REVISTA DE HISTÓRIA AMNÉSIA há sete anos já participou de várias antologias entre elas coletânea 50 vozes do Brasil 1,2,3.