quarta-feira, 1 de setembro de 2021

EDIÇÃO 09/2021

 


NATALIA TAMARA

DESCONSTRUÇÃO DA IMAGEM DA MULHER POR MEIO DO DISCURSO FEMINISTA: UMA ANÁLISE A PARTIR DAS RELAÇÕES DE GÊNERO.

Por Natalia Tamara

 1. Introdução

A mídia tem um papel importante na sociedade moderna. É por meio dela que somos situados com relação aos acontecimentos do mundo, que são propagadas  ideias,regras,padrões e costumes a serem seguidos. A internet trouxe uma revolução para a comunicação em massa por ser o espaço em que circula grande parte dos discursos da contemporaneidade.O presente artigo tem por objetivo propor uma reflexão sobre a imagem da mulher nas redes sociais; em especifico na página mulheres históricas no instagram. Tal reflexão traz por base o discurso feminista na internet que é difundido e mascensão no veículo e que traz inúmeros questionamentos históricos e sociais a despeito do valor da mulher nas redes sociais. Visto que se trata de uma rede social é evidente que haja discurso e nisto adentram reflexão as teorias de Michel Pêcheux (1938-1983), sendo que o mesmo foi o maior expoente da análise de discurso. Na página mulheres históricas podemos observar como o feminismo é aplicado no instagram. Vemos postagens que vão desde pensamentos de grandes personalidades femininas da história até a compartilhamentos de publicações de mulheres anônimas que compactuam tal filosofia e apresentam uma luta diária para conseguir seus anseios, que são em suma atitudes básicas de relacionamento social e direitos que em grande escala são negados vez após vez às mulheres. Toda publicação da página torna nítida a intenção de inspirar as mulheres a enfrentar as mazelas sofridas e a quebrar as correntes do patriarcado que as aprisionam. Pode-se notar,então,que há uma formação discursiva nas postagens que tem por determinante a ideologia feminista que carrega algo além funcionando no discurso,que é a memória discursiva.

2. Fundamentação Teórica

 Para Pêcheux um discurso não é uma unidade fechada, e sobre isto ele assegura: um discurso não apresenta, na sua materialidade textual, uma unidade orgânica em um só nível que se poderia colocar em evidência a partir do próprio discurso,mas que toda forma discursiva particular remete necessariamente à série de formas possíveis, e que essas remissões da superfície de cada discurso às superfícies possíveis que lhes são (em parte) justapostas na operação de análise, constituem justamente os sintomaspertinentesdoprocessodeproduçãodominantequeregeodiscursosubmetidoàanálise(PÊCHEUX,1997b,105-106).

 Nisto, pode-se notar que o autor denota a importância e necessidade de discursos anteriores para que haja uma validação à força de uma determinada ideia. No caso de ideologia como é o feminismo– ainda que apresentado diversas vezes de maneira informal ou numa rede social, neste caso–há um processo de ressignificação que conduz a uma construção de novos sentidos. Como afirma “o processo de produção de um discurso é representado pela rede de relações que afetam os domínios semânticos previamente colocados em evidência” (PECHÊUX,1997b,p.147).Analisar a produção discursiva nas redes sociais permite vislumbrar o modo como às novas relações sociais estão sendo erigidas por meio da linguagem, pois,pelas redes sociais, as mulheres(re)constroem e defendem seus espaços no“mundo público”,anteriormente a elas negado. A internet dissolve algumas barreiras e permite um modo de expressão feminista menos limitado. Da perspectiva linguística,podemos apreender a comunicação midiática por meio das construções textuais que circulam,concebendoalinguagemcomomediaçãonecessáriaentreohomemearealidadenatural,históricaesocial.EspecificamentedomiranteteóricoqueadotamosreferenteaAnalisedodiscurso.

 [...] não trata da língua, não trata da gramática, embora essas coisas lhe interessem. Ela trata do discurso. E a palavra discurso,etimologicamente, tem em si a ideia de curso, de percurso, de correr,de movimento. O discurso é assim palavra em movimento, prática de linguagem: com o estudo do discurso observasse o homem falando.(ORLANDI,2007,p.15)


 Ainda na linha de se pensar a linguagem enquanto discursiva, podemos afirmar que,se por um lado, a língua é um sistema, ou seja, ela se constitui como rede interna estruturante das relações entre os elementos linguísticos; por outro, como discurso,podemos concebê-la como “combinações de elementos linguísticos [...] usadas pelo falante como propósito de exprimir seus pensamentos,de falar do mundo exterior ou de um mundo interior,de agir sobre o mundo” (FIORIN,2004,p.11).Assim sendo, a língua, enquanto discurso, constrói a realidade por meio dos mecanismos de linguagem, e é também por esse mecanismo que podemos refletir a cerca do processo cultural em relação a  construção discursiva do movimento denominado feminista, apreendendo o discurso como forma de inscrição ideológica no mundo e representação da realidade pretendida. Da perspectiva discursiva, a língua é, para além de uma estrutura, um ponto de encontro entre uma estrutura(atualização do sistema linguístico)e um acontecimento(o retorno da memória discursivo como dito),como afirmado anteriormente. Além disso, é um modo de o sujeito imprimir sua identidade, uma vez que, por meio dela, ele é capaz de se expressar segundo seu próprio ponto de vista em relação às coisas do mundo, sendo que

 [...]o texto se organiza e produz sentidos, como um objeto de significação, e também se constrói na relação com os demais objetos culturais,pois está inserido em uma sociedade,emumdadomomentohistóricoeédeterminadopelasformaçõesideológicasespecificas, como um objeto de comunicação. (BARROS, 2011, p.188).


 A concepção discursiva,que imbrica discurso e posicionamento ideológico,remete, a nosso ver, a uma impressão moralizante efetuada no discurso acerca darealidadelinguisticamenteconstruída.Seosujeitofaladedeterminadolugareespaçohistóricosocialmentedeterminados,ele imprime sua visão de mundo,ideologicamentedeterminada.Apesardeseconstituirenquantomovimentoheterogêneo, o feminismo em rede mantém um núcleo comum, determinado pela defesa da identidade e do papel social da mulher segundo novos paradigmas.Ancorados,portanto,na Análise do discurso francesa,pretendemos refletir acerca da criação, uso e circulação da página do instagran mulheres.historias,enquantodifusoradeconceitosideológicos.Noprocessodiscursivodeestabelecimentododebatepúblicoemtornodatemáticadofeminismoedarepresentatividade da mulher nota-se a tentativa de reformulação do fio discursivo e temático estabelecido pela página mulheres.historicas em detrimento a relação de gêneros e conceitos de padrões sociais. Michel Pêcheux apropria-se da noção de formação discursiva e a ressignifica no campo da análise de discurso. Para a análise de discurso o sujeito é o resultado da relação existente entre história e ideologia. O sujeito,na teoria discursiva, se constitui na relação com o outro, não sendo origem do sentido, está condenado a significar e é atravessado pela incompletude.

3. Contextualização Temática

 A internet tem, cada vez mais, feito parte do cotidiano dos indivíduos e o maior acesso é voltado para as redes sociais, que são estruturas onde indivíduos interagem com a finalidade de socializar e relacionar com pessoas e/ou grupos a fim de criar vínculos. Essa estrutura de comunicação vem ganhando espaço de  forma significativa, sendo um forte meio de comunicação, pois são ferramentas que permitem o acesso a conteúdos e informações imediatas,além de promover o contato de pessoas de diferentes localidades, possibilitando compartilhar assuntos e notícias dos quatro quantos do país. A partir disso,sendo um mecanismo de informação instantâneo, tornam-se espaços nos quais as pessoas podem se reunir e fazer das redes sociais um lugar propicio para se organizar e organizar pautas de luta a partir de interesses e inquietações em comum. Neste crescimento de polaridades virtuais, muitos movimentos ganharam força e agregam cada vez mais “discípulos” em favor da causa. A análise do artigo está voltada para pagina virtual mulheres.historicas localizada na rede social instagran,a pagina é gerenciada por Dara Medeiros, e, expõe conteúdos oriundos do movimento feminista.Mulheres históricas - página do instagram, com pouco mais de trezentose noventa e sete mil seguidores, aborda-se questões de cunho político-social com enfoque na ideologia do feminismo. Com a premissa feminista, é problematizada em diversas postagens a imagem da mulher através de citações, trechos de séries e filmes, charges e postagens de personalidadese /ou seguidores da página.

 3.1. Uma análise a partir das relações de gênero


Segundo Miguel(2014),a desigualdade entre homens e mulheres é uma característica encontrada em praticamente todas as sociedades. Esta desigualdade esteve sempre presente na maior parte da história, sendo assumida como uma consequência da natureza diferenciada dos dois sexos e fundamental para a sobrevivência e o progresso da espécie. Porém,visando recusar esse tipo de pensamento e denunciar a situação das mulheres como efeito de padrões de opressão,o feminismo estabeleceu uma ampla crítica ao mundo social que perpetua assimetrias e impede a autonomia de alguns de seus integrantes. Assim,o movimento feminista, em suas várias vertentes, milita pela igualdade de gênero,assim como investiga as causas e os mecanismos de reprodução da dominação masculina



SegundoBetto(2001):

emancipar-se é equiparar-se ao homem em direitos jurídicos,políticos e econômicos. Libertar-se é querer ir mais adiante, [...]realçar as condições que regem a alteridade nas relações de gênero, de modo a afirmar a mulher como indivíduo autônomo,independente [...] (BETTO,2001, p.20).

Através das redes sociais of eminismo vem desconstruindo uma imagem romantizada da mulher que fora sendo construída no decorrer dos séculos e com isso construindo uma bela epígrafe de empoderamento a cada feminista.As mulheres estão se libertando das ideias torpes de que são frágeis,indefesas,incapazes, objetos de prazer e, sobretudo, submissas aos homens transeuntes de suas vidas. A criação e o compartilhamento de conteúdo feminista reeducam e abrem um leque gigantesco de curiosidade histórica e criticidade social, todavia são esses conteúdos que inspiram esse movimento e anunciam que não há mais espaço para a ignorância machista nem tampouco para abusos que foram sofridos por milhares e milhares de mulheres no decorrer da história. Com isso, confirma-se as ideias no que diz respeito à memória de discurso e sua relação com o sujeito. Acharddiscorre:

 [...]o implícito trabalha então sobre a base de um imaginário que o representa como memorizado, enquanto cada discurso, ao pressupô-lo, vai fazer apelo a(re)construção, sob a restrição‘no vazio’de que eles respeitem as formas que permitam sua inserção por paráfrase. Mas jamais podemos provar ou supor que esse implícito (re) construído tenha existido em algum lugar como discurso autônomo(1999,p.13).


 Podemos dizer que o pensamento feminista,como expressão de ideias que resultam da interação entre desenvolvimento teórico e prático, não constitui um todo unificado.Porém, de acordo com Piscitelli(2001),apesar das diferenças das distintas correntes feministas, as abordagens desenvolvidas após o final da década de 1960 compartilham ideias centrais. Em termos políticos,consideram que as mulheres ocupam lugares sociais subordinados em relação aos mundos masculinos,e essa subordinação feminina é algo que varia de acordo com a época histórica e o lugar do mundo em que ela seja estudada. Ao invés de aceitar a subordinação feminina como algo natural, o pensamento feminista sustenta que ela é decorrente das maneiras como a mulher é construída socialmente.



Para tratar sobre a questão do gênero, incorporamos a imagem retirada da página virtual instagran mulheres.historias que tonaliza as questões feministas. Desta forma, se para Foucault a construção dos sujeitos se dá por meio dos discursos que carregam efeitos específicos de poder,pode-se dizer que a sociedade produz imagens, discursos visuais do feminino, seja através de qualquer meio de comunicação, que são reflexo e resultado de uma ideia socialmente enraizada relativa à feminilidade, e essas imagens difundidas de forma massiva, produzem e estabelecem modos de pensar o feminino nas sociedades ocidentais. Na verdade,essas imagens influenciam tanto a auto-concepção feminina, quanto o modo como a sociedade aprende a pensar o que é ser mulher. Isto se dá por que o visual é central na construção da vida social nas sociedades contemporâneas ocidentais, ou seja, as imagens são visões do mundo. As imagens, sendo elas uma forma de discurso, contribuem para a sedimentação e legitimação de práticas sociais concretas por possuírem a capacidade de mostrar um mundo social do qual elas próprias emergem e que, em si, funciona de acordo com aqueles mecanismos.Assim, as imagens nos dizem como devemos nos comportar, como devemos tratar a aparência, como devemos esperar ser vistos e tratados pelos outros.Elas, como qualquer outra prática social, organizam o imaginário ligado à mulher, sendo, então, um campo importante quando se trata de questionar relações de poder e de combater mecanismos de perpetuação da dominação masculina.

3.1.Uma análise referente à desconstrução dos padrões sociais



A ideia de desconstrução da imagem da mulher faz-se necessária pela estapafúrdia sexualização da mulher em contextos ilógicos e à busca por um padrão ideal desse objeto de desejo. Quando se refere a busca por um padrão da imagem do corpo da mulher de imediato ignora-se a diversidade corpórea que há, já que é grande minoria que se encaixa à padronização do‘corpo perfeito’.Infelizmente muitas mulheres sofrem por não se encaixarem no ideal padrão corporal e gastam um bom tempo de suas vidas num frenesi para atingir o que em alguns casos é inatingível. Há angustia e sofrimento por não se sentirem desejáveis e atraentes – o que é ensinado desde muito cedo pela sociedade patriarcal que visa unicamente o lucro com produtos de beleza fortalecendo um ideal de beleza extremamente restrito. Na página é problematizada a questão da imagem da mulher enquanto produto de desejo comercial segundo os padrões sociais e a desconstrução desse discurso, discurso esse que é implantado na mente das pessoas desde muito cedo. O discurso é percebido como opacidade na teoria de discurso de Michel Pêcheux. Esta ideia de discurso é ligeiramente interligada ao sentido político da linguagem que abrange a origem do discurso e suas origens a questionamentos à linguagem dando-lhe como parte de um mecanismo ideológico. Segundo Orlandi(2005, p. 10), Pêcheux “concebe o discurso como um lugar particular em que esta relação ocorre e, pela análise do funcionamento discursivo, ele objetiva explicitar os mecanismos de determinação histórica dos processos de significação. Estabelece como central entre o simbólico e o político”. A página mulheres.historicas, traz imagens que abordam questionamentos referente a beleza feminina;uma aparência bela, ligada a beleza física, que traz consequência na vida das mulheres, sendo isso considerado um fator determinante da sua existência. Sendo importante notar que a beleza é moldada por padrões e critérios bem definidos, o que acaba implicando na construção de um ideal, que ocasiona o afastamento forçado da aparência da mulher comum, que não é considerada idealmente bela e que, portanto, não está adequada a todos os critérios prescritos. Esse padrão de beleza estereotipado é limitado por rígidos parâmetros no que diz respeito à idade,ao peso,à etnia e à classe. É preciso perceber o quanto esses discursos exploram os estereótipos de gênero e o quanto eles estão culturalmente enraizados em nossa sociedade, visto que, quando olhamos uma imagem com os papeis de gênero trocados acabamos reagindo com estranheza. Esta se dá porque estamos acostumados a esses estereótipos de gênero e a sempre relacionar o“homem” a uma categoria superior. Após o que foi exposto, nota-se que as expectativas sociais são materializadas na forma de arte fatos industriais, seriais e padronizados de acordo com uma normalização implícita, com o intuito de regular o olhar e a constituição das imagens.Esseolharmasculinoqueéinstituídoéqueseráaforçaquedominaasimagens,que constrói a imagem de mulheres, que exacerba a fantasia, segundo o mercado.Porém, se ao observador resta a ilusão de controlar a imagem, é preciso estar claro que essas imagens não são inofensivas, visto que, por serem discursos de poder, elas enraízam e perpetuam o machismo, sendo facilmente transferidas e personificadas na vida real. Levando em consideração as teorias, já citadas, dos autores que tratam das relações de gênero e poder, pode-se dizer que a imagem da mulher é um discurso criado pela sociedade patriarcal, e o seu consumo manufaturado passa a subsidiar a reprodução de imagens mentais, que colaboram e fomentam os estereótipos de gênero.

Imagens: Instagram Mulheres.Historicas

Publicação autorizada.

Natália Tamara Cerqueira da Silva, Graduanda em Letras/Literaturas (UNEB). Ativista cultural. Roteirista. Membro de algumas Arcádias Literárias. Organizadora e Coautora de Coletâneas/Antologias. Membro-Fundadora do Grupo de teatro Cultura em Movimento. Membro do Grupo de Pesquisa em Linguagem, Estudos Culturais e Formação do/a Leitor/a - (LEFOR). Coordenadora do projeto Bardos Baianos – Território Sisal. Detentora de alguns títulos, e prêmios literários. Atuou como Coordenadora de Cultura da Cidade de Saúde/BA.

HISTORIOGRAFIA


Por Alessandro Silva

Para melhor compreensão, o trabalho terá a experiência religiosa e a institucionalização da religião. Será mostrado como o sentimento religioso, que fornece ordem, sentido e eficácia simbólica ao ser humano, foi aos poucos se institucionalizando, tornando-se detentor da experiência religiosa. A instituição religiosa como instrumento de coerção social; será apresentada como a religião cristã tornou-se um mecanismo de coerção na sociedade  feudal  (Durkheim).  As principais Influências
Religiosas na passagem da medievalidade para a Modernidade.
A igreja, no caso Católica Apostólica Romana, exerceu uma grande influência sobre a população medieval que ultrapassava as questões religiosas e espirituais. Tornou-se a maior "senhora feudal", proprietária de terras e de riquezas doadas pelos reis, atuava em todos os setores econômicos, pedagógico, político e mental, tornando-se o principal centro irradiador da cultura na Idade Média. A igreja partia de uma centralizada e bem organizada estrutura, sua expansão foi facilitada pela expansão dos mosteiros, abadias e conventos, e sua consolidação foi viabilizada pelos monarcas francos e seus decretos.
Possuía também grandes rendimentos através do dízimo, contudo, criou normas econômicas condenando o lucro e os empréstimos de dinheiro a juros. O papa, chefe supremo da igreja, era visto como representante direto de Deus na terra, superior aos reis e imperadores, como podemos observar no pronunciamento do papa Inocêncio III:
‘‘Deus, criador do mundo, pôs no firmamento dois grandes astros para o iluminar: o Sol que preside ao dia, e a Lua que preside à noite.
Do mesmo modo, no firmamento da Igreja universal instituiu Ele duas altas dignidades: o Papado, que reina sobre as almas, e a Realeza, que domina os corpos. Mas o primeiro é muito superior à segunda". (Pronunciamento do papa Inocêncio III. Citado por FREITAS, 1975, p. 204).
Em virtude destas transformações, a mentalidade racionalista e humanista da cultura greco-romana foi lentamente sendo substituída por uma inabalável fé  em
Deus. Toda a explicação existencial somente poderia ser respondida pela fé; apenas ela poderia garantir a vitória e proteção sobre o demônio, símbolo do Mal e uma salvação após a morte.
A religião agora pautava a vida e a morte do homem e da mulher medieval através dos sacramentos (batismo, matrimônio, extrema-unção). O ser humano medieval estava nas "mãos de Deus". Atemorizado pela condenação, submetia-se às penas e ameaças de caráter religioso impostas  pela  igreja ( podendo até chegar à excomunhão). A máxima grega "o
homem é a medida de todas as coisas" (antropocentrismo) transformou-se em "Deus é a medida de todas as coisas" (teocentrismo).
A igreja atingiu o máximo em sua construção dogmática, formou uma poderosa elite intelectual capaz não somente de sustentar seus símbolos, mas também de oferecerem alternativas quando esses símbolos fossem contestados. A gestão do sagrado, ou sentimento religioso pela igreja assegurou sua continuidade sob a forma de comemoração, de uma memória ou tradição; contudo, impediu que inovações e novos discursos fossem aceitos pela ortodoxia, aprisionando o sentimento religioso.
A ética protestante, ao contrário da católica, valorizava a competitividade e a busca do lucro, ajustando-se, portanto, aos ideais burgueses daquele momento histórico em que se desenvolvia o capitalismo. Por este motivo, aos poucos, a Igreja Católica Romana precisou rever suas concepções e adequar- se a essa nova estrutura social, política e econômica com uma nova mentalidade, cada vez mais distante da medieval (Contra Reforma). Estas mudanças caracterizaram-se por um movimento de reafirmação dos princípios da doutrina e da estrutura da Igreja, corrigindo, desde o seio da Igreja, as  fontes  de  descontentamento  que alimentavam a Reforma Protestante.
As instituições religiosas, contudo, perdem o poder de dar "as cartas" no mundo moderno; já não possuem a hegemonia da cultura , do Estado e das instâncias reguladoras do cotidiano. Nesta nova realidade, não era mais a religião que dava sentido ordenador da realidade social, com suas mediações, mas a própria interdependência de escolha racional centrada no ser humano. Deus estava agora presente na natureza, portanto no próprio homem, que poderia agora descobri-lo através da razão.
A moderna humanidade que passou por um grande processo de dessacralização e secularização, não conseguiu proporcionar um mundo mais justo através da razão. O avanço teológico e a ciência, em vez de proporcionarem a solução de todos os males da sociedade, mostraram-se incapazes de superar as contradições da convivência social. O desenvolvimento do capitalismo "selvagem", as duas grandes guerras mundiais, a utilização da bomba atômica, os riscos da industrialização para a ecologia, entre outros, mostrou a ineficácia da razão como "salvadora da pátria", fez-se então necessário um retorno aos antigos referenciais que tinham sido ignorados na modernidade; é neste contexto que nasce o que chamamos de pós- modernismo.
As igrejas tinham encastelado Deus a tal ponto que ele se tornou impotente diante das necessidades do mundo. Este período é então caracterizado pelo aumento da insegurança (pois todas as certezas em que estava embasada a sociedade "caíram por terra"), do relativismo de qualquer conhecimento (negação de verdades universais da racionalidade), da globalização e da retomada do interesse pelas concepções religiosas, como uma tentativa de "achar um sentido do mundo acessível à compreensão humana" (Max Weber 1922, p. 625). O retorno da religião (sentimento religioso) neste aspecto pode ser visto como um fenômeno periódico que se utiliza à religião em função de exigências de natureza social.
O que resta na sociedade pós-moderna é a presença simultânea de várias instituições religiosas (cristãs ou não), convivendo entre si, não mais influenciando o todo social, pois os seres humanos não se identificam mais com discursos universais, mas atuando de maneira coadjuvante, influindo, ainda que em menor escala,  os  fundamentos  da sociedade.

São nesses momentos de "morte" institucional que a experiência religiosa ganha novos sabores.

CONSIDERAÇÕES FINAIS 

A partir da compreensão dos desdobramentos que tiveram a passagem de uma era feudal para uma era moderna centrada no surgimento do capital, da reflexão sobre a pós- modernidade e dos conceitos de religiosidade, dessacralização e instituição pretende-se mostrar que o sentimento religioso ainda se faz

presente na atualidade como instrumento que influi sobre os fundamentos sociais, mas que, contudo, perdeu o seu sentido ordenador da realidade e do social; ou seja, a religião e suas instituições de representação perderam poder de dar sentido e dominar no mundo (pós) moderno.

Publicação autorizada.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DURKHEIM, E. As Formas Elementares da Vida Religiosa. São Paulo: Paulus, 1989.

•DURKHEIM, E. L'éducationmorale. Paris: F. Alcan, 1925. (Nova ed. PUF, 1963).

•FREITAS, G. de, 900 Textos e Documentos de História. Lisboa: Plátano, 1975.

•FROHLICH, R. Curso Básico de História da Igreja. São Paulo: Paulinas, 1987.

•HARVEY, David. Condição Pós-Moderna. 12. ed. São Paulo: Loyola, 1992.

•WEBER, Max. Ensaios de Sociologia. 5 ed. Rio de Janeiro: LTC, 1982.

•WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo. São Paulo: Pioneira, 1989.

Alessandro Lopes Silva, natural de Teresópolis/RJ. Graduado em História pela Universidade Norte do Paraná, é membro da Academia de Letras do Brasil-Teresópolis. Autor de vários artigos é do livro "Contos do interior lendas do Brasil". Colunista da REVISTA DE HISTÓRIA AMNÉSIA há sete anos já participou de várias antologias entre elas coletânea 50 vozes do Brasil 1,2,3.

MACHADICES

 


Por Antonio Carlos Machado


JILÓ

Até alguns anos atrás um comércio era também chamado de “Venda”, podia ser um misto de mercearia e bar e ainda quitanda.

Tempos idos...me lembrei hoje da “Venda de Seu Jurandir”, lugar onde passei alguns momentos hilariantes, gostosos e mesmo mágicos da minha vida.

Não se assemelhava a nada que já tenha visto depois, havia de tudo ornando as paredes, desde estrelas do mar até couraças de tatu-bola, chapéu de vaqueiro, gibão de couro crú, uma cabeça de boi, garrafas de pinga com caranguejos e cobras dentro, enfim toda sorte de bugigangas que podiam lembrar o nordeste terra de “Seu Jura” como era chamado seu dono, homem de muita lida e palavra, todos o tinham como um bom sujeito.
Durante a semana era mais frequentado pelas donas de casa em busca de um pouco de óleo, uma farinha ou um pedaço de carne sêca.

Tudo se encontrava ali de analgésico a manteiga de garrafa, farinhas, agulhas, sabonete...


Mas o barulho acontecia mesmo no final de semana, já na sexta-feira, os camaradas se reuniam em rústicos tamboretes, para degustar uma boa cachaça, um macaxeira frita ou para se deliciar com o lendário caldo de mocotó com maxixe, vinha gente de outros bairros para degustar a iguaria, especialidade de Dona Marilda, mulher de seu Jura, a criatura mais discreta que conheci, entrava e saía sem dizer palavra, no máximo um sorriso tímido, a maioria nem a conhecia, quase invisível, coisas de mulher avessa as velhacarias que aconteciam por ali, na prosa dos homens.
Era costume se contar causos, a maioria magnificas mentiras sobre as façanhas vividas por todos ali. Papagaios que assobiavam o hino nacional, cachorros que sabiam tabuada, gatos que bebiam conhaque eram considerados café pequeno, frente as narrativas encontradas ali com certa fartura.

Certa vez o causo ficou histórico, Constantino, um marceneiro pernambucano, já veterano, chegou na venda lá pelas cinco da tarde num sábado, véspera do dia das mães, estava meio frio com o fim do outono, ele pediu uma cachaça chamada Cariri e uma porção de macaxeira frita, normalmente todos dividiam as porções e Seu Jura nem cobrava a primeira pinga dos mais chegados.

Entre caçadas e pescarias várias, foram se divertindo e bebendo como sempre, lá pelas tantas Constantino puxou seu tamborete mais para perto da turma e emendou:

- Olhem, vocês falam muito de criação, passarinho, cachorros bravos, mas a história que vou contar é mesmo assombrosa e até capaz de alguém aqui, não acreditar....
O povo se entre olhou... uns deram risada e espetaram:

-  Constantino, conte logo cabra!
Constantino ajeitou as calças, deu mais gole e soltou:
- Pois tá, lá no sítio de meu pai, em Pinguelo do Cão (quando ouviram o nome da cidade muita gente já percebeu que o negócio era forte)

- numa tarde muito quente, eu fui buscar capim para a criação de meu pai, uns vaquinha, dois jegues, a gente tinha um pouco de cada, porco, galinha, tudo tinha.

Eu já vinha embora quando percebi que um Louva-Deus estava pegado em minha camisa, ia dar um tabefe nele, mas achei graça no bichinho e toquei pra casa assim mesmo, ele ficou lá, não saia de jeito nenhum
Deixei a carga no lugar certo, meu irmão me ajudou a tirar tudo e dali já fui tomar meu banho, na hora de tirar a camisa, peguei o bicho com cuidado e coloquei na porta do quarto, tomei meu banho tranquilo, me vesti e quando voltei, não é que o danado ainda estava lá???...

Fui jantar normalmente com a família, falar do dia, da vida dos outros...dei nem conta, me esqueci do bicho e dormi.

No dia seguinte acordei e o danado nem parece que tinha mudado de posição, uma besta!

Fui fazer minhas obrigações, almocei e quando dei fé o bicho estava de novo enganchado em minha camisa, sabe que já estava me afeiçoando ao bichinho.

Os dias se passaram e um belo dia quando estava limpando a gaiola dos passarinhos de meu pai, não é o que o bicho entrou lá dentro?

A gaiola estava vazia e eu acabei deixando ele lá, coloquei umas folhagens, um pedaço de mamão e ele bem gostou... olha isso!
Até agora o povo tinha ouvido respeitosamente, já tinha sido servida a segunda rodada de pinga, mas todos sabiam que o melhor ainda estava por vir. Pois bem...
Depois de um tempo todos na casa gostavam do bichinho que até nome tinha:

- JILÓ!!

 Por que comia um jiló lascado!!!

Uma vez estava brincando com Jiló e vi que ele ficava no puleiro e tinha certa dificuldade porque a madeira era muito lisa, troquei os puleiros por algo mais rústico e daí foi que eu vi o espetáculo!

Jiló era um acróbata!

Ele se jogava de um para outro puleiro e pulava de costas, se equilibrava numa perna só, ia pra lá e pra cá, chega fazia pose

Botei ele numa gaiola bem maior, só para ver as acrobacias de Jiló!!

Coisa de doido mesmo.

A mentira foi tão bem contada que ninguém falava.

Ficaram tão bestificados com a coragem de Constantino que sequer brincaram entre si, um ou outro fez menção de perguntar alguma coisa, mas seu Jura mandou ficar quieto.

Não tinha outra coisa a fazer, Seu Jura pediu licença e fechou o bar

Num canto escondida Dona Marilda ouviu tudo, mas ninguém a viu como de costume, quando seu Jura subiu para casa, ainda espetou o marido.

- Tem Jiló fritinho amor, acabei de fazer, quer um pratinho?

Seu Jura, sapecou:

- Mas até tu??!! Quem dera que mataram esse bicho dos infernos!

Publicação autorizada.


Acilbras e Academia Internacional Mulheres das Letras

O mês de Agosto foi muito importante para minha trajetória literária, fui empossada em duas academias e sem dúvidas é um passo importante para os escritores.
A primeira foi a ACILBRAS (Academia de Artes, Ciências e Letras do Brasil), com sede em Volta Redonda/RJ, tendo o maestro Armando Caaraura como presidente. Passo a ocupar então a cadeira de número 734, recebi com imensa gratidão meu certificado e minha medalha. Minha posse aconteceu no dia 07/08/2021 de forma presencial, com todos os cuidados devido a pandemia de Coronavírus.

Para quem quiser conhecer mais sobre a academia deixo abaixo o link de sua página no Facebook

 https://www.facebook.com/AcademiadeArteCienciaseLetrasdoBrasil 




Minha segunda posse foi na Academia Internacional Mulheres das Letras, que se realizou no dia 13/08/2021 de forma online, a academia visa dar maior apoio para mulheres artistas e empreendedoras,
sua presidente é a editora e escritora Perla De Castro, ocupo assim a cadeira de número 208.
A academia Mulheres das letras sem dúvida é um espaço de estrema importância não só para escritoras que buscam seu lugar no meio literário, mas para mulheres das artes em geral, que encontram na academia uma espaço de apoio, incentivo e reconhecimento. Deixo abaixo o limk para que conheçam o trabalho.

https://www.facebook.com/academia.mulheresdasletras




Momentos de grande alegria para mim como escritora e que venham mais!

Shirlei Pinheiro


AUTOR DO MÊS

 


Emerson Alexandre Vaz de Lima

 

Engenheiro por profissão e escritor por paixão.
Natural de Araras/SP, começou a escrever somente aos 46 anos, como uma forma de terapia. Possui hoje cerca de 100 textos entre contos, crônicas e poesias, com os quais pretende lançar um livro em breve, tendo sua receita revertida a uma instituição de caridade da cidade de Indaiatuba/SP, onde reside hoje. Recentemente fez parte da antologia “As Quatro Estações” com sua poesia de mesmo nome, sendo esse o primeiro texto publicado em um livro físico.  É o autor e gestor de uma página no Facebook chamada “Pensamentos, Elementos e Sentimentos”(@PoesiasByEmersonLima), onde compartilha parte de sua obra.

Saudade daquele sonho


Hoje acordei com saudade.

Saudade daquele sonho.

Senti saudade de acordar abraçado a você, enquanto ainda dormia na nossa pousada favorita. Deixei uma flor de cerejeira sobre o criado-mudo, um mimo para quando acordasse e sentisse minha falta.

Preparei um café da manhã especial, com as coisas que mais gosta e outras que ainda nem conhecia. Enquanto se deliciava, eu olhava apaixonado, admirando tudo em você.

Senti saudade de quando estava na cozinha preparando o risoto que havia pedido, você chegou e me abraçou. Senti o calor do seu corpo nas minhas costas, aquela sensação que aquece a alma e faz disparar o coração.

Parei o que estava fazendo e ficamos de frente um para o outro. Seus olhos brilhavam como nunca. Um giro rápido e estava encostada no balcão, com aquele sorriso lindo que só você sabe dar.

Senti saudade dos momentos naquele castelo, lá no alto da montanha. Lembro bem da sua silhueta entre as cortinas, seu cabelo caindo sobre os ombros até quase a cintura. Registrei aquele momento em um retrato, verdadeira obra de arte.

E quando meus lábios se aproximaram do seu ouvido, comecei a cantar baixinho nossa música. Senti o arrepio em seus braços, você me apertou mais forte e, devagar, deitamos no tapete em frente à janela envidraçada.

Senti saudade das fotografias que você tirava enquanto eu dirigia, rumo àquela pousada pé na areia. Da janela do quarto, contemplamos o vai-e-vem do mar. O vento, que soprava forte no rosto e junto com o barulho das ondas formavam a mais linda canção.

À noite caminhamos pela orla, tendo apenas a Lua como testemunha, na mesma praia onde escrevi um poema. Falávamos dos planos, das próximas viagens. Entre um riso e outro, um beijo roubado.

Senti saudade de tomar um café, comer um pão de queijo com doce leite. Os sabores eram deliciosos complementos, porque na verdade tudo o que eu queria era sentir o gostinho da sua boca na minha.

Chegava a hora de se despedir.Você pulava sobre mim, ali, no banco do motorista e me abraçava forte. O espaço era apertado, mas nada se comparava ao aperto no peito quando te via descendo do carro e entrar na sua casa.

Por um breve momento o coração parava de bater ao ver a luz se apagar.

Agora o sol brilha forte lá fora. Horas, minutos e segundos parecem uma eternidade.

Não vejo a hora de chegar o fim do dia, dormir e viver tudo aquilo novamente.

Acordar no amanhã e mais uma vez sentir saudade.
Saudade daquele sonho.

FOTO: Arquivo pessoal
Publicação autorizada.



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