quarta-feira, 1 de setembro de 2021

HISTORIOGRAFIA


Por Alessandro Silva

Para melhor compreensão, o trabalho terá a experiência religiosa e a institucionalização da religião. Será mostrado como o sentimento religioso, que fornece ordem, sentido e eficácia simbólica ao ser humano, foi aos poucos se institucionalizando, tornando-se detentor da experiência religiosa. A instituição religiosa como instrumento de coerção social; será apresentada como a religião cristã tornou-se um mecanismo de coerção na sociedade  feudal  (Durkheim).  As principais Influências
Religiosas na passagem da medievalidade para a Modernidade.
A igreja, no caso Católica Apostólica Romana, exerceu uma grande influência sobre a população medieval que ultrapassava as questões religiosas e espirituais. Tornou-se a maior "senhora feudal", proprietária de terras e de riquezas doadas pelos reis, atuava em todos os setores econômicos, pedagógico, político e mental, tornando-se o principal centro irradiador da cultura na Idade Média. A igreja partia de uma centralizada e bem organizada estrutura, sua expansão foi facilitada pela expansão dos mosteiros, abadias e conventos, e sua consolidação foi viabilizada pelos monarcas francos e seus decretos.
Possuía também grandes rendimentos através do dízimo, contudo, criou normas econômicas condenando o lucro e os empréstimos de dinheiro a juros. O papa, chefe supremo da igreja, era visto como representante direto de Deus na terra, superior aos reis e imperadores, como podemos observar no pronunciamento do papa Inocêncio III:
‘‘Deus, criador do mundo, pôs no firmamento dois grandes astros para o iluminar: o Sol que preside ao dia, e a Lua que preside à noite.
Do mesmo modo, no firmamento da Igreja universal instituiu Ele duas altas dignidades: o Papado, que reina sobre as almas, e a Realeza, que domina os corpos. Mas o primeiro é muito superior à segunda". (Pronunciamento do papa Inocêncio III. Citado por FREITAS, 1975, p. 204).
Em virtude destas transformações, a mentalidade racionalista e humanista da cultura greco-romana foi lentamente sendo substituída por uma inabalável fé  em
Deus. Toda a explicação existencial somente poderia ser respondida pela fé; apenas ela poderia garantir a vitória e proteção sobre o demônio, símbolo do Mal e uma salvação após a morte.
A religião agora pautava a vida e a morte do homem e da mulher medieval através dos sacramentos (batismo, matrimônio, extrema-unção). O ser humano medieval estava nas "mãos de Deus". Atemorizado pela condenação, submetia-se às penas e ameaças de caráter religioso impostas  pela  igreja ( podendo até chegar à excomunhão). A máxima grega "o
homem é a medida de todas as coisas" (antropocentrismo) transformou-se em "Deus é a medida de todas as coisas" (teocentrismo).
A igreja atingiu o máximo em sua construção dogmática, formou uma poderosa elite intelectual capaz não somente de sustentar seus símbolos, mas também de oferecerem alternativas quando esses símbolos fossem contestados. A gestão do sagrado, ou sentimento religioso pela igreja assegurou sua continuidade sob a forma de comemoração, de uma memória ou tradição; contudo, impediu que inovações e novos discursos fossem aceitos pela ortodoxia, aprisionando o sentimento religioso.
A ética protestante, ao contrário da católica, valorizava a competitividade e a busca do lucro, ajustando-se, portanto, aos ideais burgueses daquele momento histórico em que se desenvolvia o capitalismo. Por este motivo, aos poucos, a Igreja Católica Romana precisou rever suas concepções e adequar- se a essa nova estrutura social, política e econômica com uma nova mentalidade, cada vez mais distante da medieval (Contra Reforma). Estas mudanças caracterizaram-se por um movimento de reafirmação dos princípios da doutrina e da estrutura da Igreja, corrigindo, desde o seio da Igreja, as  fontes  de  descontentamento  que alimentavam a Reforma Protestante.
As instituições religiosas, contudo, perdem o poder de dar "as cartas" no mundo moderno; já não possuem a hegemonia da cultura , do Estado e das instâncias reguladoras do cotidiano. Nesta nova realidade, não era mais a religião que dava sentido ordenador da realidade social, com suas mediações, mas a própria interdependência de escolha racional centrada no ser humano. Deus estava agora presente na natureza, portanto no próprio homem, que poderia agora descobri-lo através da razão.
A moderna humanidade que passou por um grande processo de dessacralização e secularização, não conseguiu proporcionar um mundo mais justo através da razão. O avanço teológico e a ciência, em vez de proporcionarem a solução de todos os males da sociedade, mostraram-se incapazes de superar as contradições da convivência social. O desenvolvimento do capitalismo "selvagem", as duas grandes guerras mundiais, a utilização da bomba atômica, os riscos da industrialização para a ecologia, entre outros, mostrou a ineficácia da razão como "salvadora da pátria", fez-se então necessário um retorno aos antigos referenciais que tinham sido ignorados na modernidade; é neste contexto que nasce o que chamamos de pós- modernismo.
As igrejas tinham encastelado Deus a tal ponto que ele se tornou impotente diante das necessidades do mundo. Este período é então caracterizado pelo aumento da insegurança (pois todas as certezas em que estava embasada a sociedade "caíram por terra"), do relativismo de qualquer conhecimento (negação de verdades universais da racionalidade), da globalização e da retomada do interesse pelas concepções religiosas, como uma tentativa de "achar um sentido do mundo acessível à compreensão humana" (Max Weber 1922, p. 625). O retorno da religião (sentimento religioso) neste aspecto pode ser visto como um fenômeno periódico que se utiliza à religião em função de exigências de natureza social.
O que resta na sociedade pós-moderna é a presença simultânea de várias instituições religiosas (cristãs ou não), convivendo entre si, não mais influenciando o todo social, pois os seres humanos não se identificam mais com discursos universais, mas atuando de maneira coadjuvante, influindo, ainda que em menor escala,  os  fundamentos  da sociedade.

São nesses momentos de "morte" institucional que a experiência religiosa ganha novos sabores.

CONSIDERAÇÕES FINAIS 

A partir da compreensão dos desdobramentos que tiveram a passagem de uma era feudal para uma era moderna centrada no surgimento do capital, da reflexão sobre a pós- modernidade e dos conceitos de religiosidade, dessacralização e instituição pretende-se mostrar que o sentimento religioso ainda se faz

presente na atualidade como instrumento que influi sobre os fundamentos sociais, mas que, contudo, perdeu o seu sentido ordenador da realidade e do social; ou seja, a religião e suas instituições de representação perderam poder de dar sentido e dominar no mundo (pós) moderno.

Publicação autorizada.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DURKHEIM, E. As Formas Elementares da Vida Religiosa. São Paulo: Paulus, 1989.

•DURKHEIM, E. L'éducationmorale. Paris: F. Alcan, 1925. (Nova ed. PUF, 1963).

•FREITAS, G. de, 900 Textos e Documentos de História. Lisboa: Plátano, 1975.

•FROHLICH, R. Curso Básico de História da Igreja. São Paulo: Paulinas, 1987.

•HARVEY, David. Condição Pós-Moderna. 12. ed. São Paulo: Loyola, 1992.

•WEBER, Max. Ensaios de Sociologia. 5 ed. Rio de Janeiro: LTC, 1982.

•WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo. São Paulo: Pioneira, 1989.

Alessandro Lopes Silva, natural de Teresópolis/RJ. Graduado em História pela Universidade Norte do Paraná, é membro da Academia de Letras do Brasil-Teresópolis. Autor de vários artigos é do livro "Contos do interior lendas do Brasil". Colunista da REVISTA DE HISTÓRIA AMNÉSIA há sete anos já participou de várias antologias entre elas coletânea 50 vozes do Brasil 1,2,3.

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