domingo, 1 de maio de 2022

NATÁLIA TAMARA

 




Falácias Verídicas da Linguística 

 

É com tamanha satisfação que compartilho com vocês as sensações de desbravar o interior subterrâneo do conhecimento linguístico. O processo de descoberta e transformação é, sem dúvidas, a maior aventura do mundo; ouso dizer que a manifestação linguística é resultante de uma atividade intelectual, a qual permite uma transfusão de sangue O Positivo, para que se tenha sucesso em um complexo procedimento cirúrgico denominado de neurolinguística.

Nos últimos anos, principalmente, muito se tem discutido a respeito dos gêneros. A distinção de conceitos coloca em evidência  uma discussão teórica  sobre  as expressões  gênero discursivo ou  gênero textual. Essas duas vertentes de análise demonstram, segundo Rojo (2005), que há diferenças de método e de concepção. Aqueles que adotam os gêneros discursivos darão prioridade para a significação dos enunciados, para a acentuação valorativa e o tema, perceptíveis por meio das marcas linguísticas, pelo estilo e pela forma composicional do texto. Em contrapartida, para aqueles que adotam os gêneros textuais, a significação é preterida e abordada apenas em relação ao conteúdo temático.Com o desenvolvimento da ciência da liguagem, os gêneros ganharam ainda mais notoriedade em diversas areas do conhecimento, dentre as quais está a Linguística. O desenvolvimento desse campo e a vasta bibliografia disponível hoje a respeito desse tema, por exemplo, se devem, em parte, aos estudos realizados por Bakhtin, teórico que que possui interessante concepção de linguagem, a partir da qual decorrem conceitos como enunciação, dialogismo e a própria noção de gêneros.

De acordo com Silva (1999), apesar de ultilizar a terminologia gênero textual, “ a rigor, Marcuschi opera com a mesma noção de gênero empregada na obra de Bakhtin”, uma vez que concebe os gêneros como formas de uso da língua, determinadas pelos objetivos dos falantes e pela natureza do tema envolvido na situação comunicativa. Assim, conclui a autora: “A [...] diferença [entre Bakhtin e Marcuschi] é somente de ordem terminológica, e não conceitual” (Silva, 1999: 98). Entende-se como tipos textuais, o conjunto de enunciados organizados em uma estrutura bem definida e facilmente identificada por suas características predominantes. O termo tipologia textual (outra nomenclatura possível) designa uma sequência definida pela natureza linguística de sua composição. Diferente do Gênero Literário, o Gênero Textual é o nome que se dá às diferentes formas de linguagem empregadas nos textos. Para se constituir como gênero, um texto precisa apresentar: finalidade comunicativa, destinatário, linguagem, suporte e mensagem.Marcushi (2000) chegou a propor uma terminologia alternativa que, a seu ver, poderia se revelar mais precisa “para eliminar as querelas teóricas sobre as distinções entre texto e discurso e todas as disputas aqui envolvidas”. A sugestão a ser adotada em “momentos futuros” seria ultilizar o termo “gêneros comunicativos” em substituição a “gêneros textuais”, considerando que “textos são artefatos ou fenômenos que exorbitam suas estruturas e só tem efeito se situarem em algum contexto comunicativo.

Outro dia após tomar um porre na taverna com o amigo LuisAntonio Marcuschi, pude compreender através de suas sublimações teóricas que em todos os gêneros, os tipos se realizam, ocorrendo, muitas das vezes, o mesmo gênero sendo realizado em dois ou mais tipos. No auge do seu devaneio ele puxa do bolso do seu paletó uma carta pessoal, cujo remetente é de uma antiga e efusiva paixão. A carta descreve sobre os lugares que Lizze visitou, narra fatos que a mesma vivenciou, expõem os motivos pelos quais está longe de seu amado, justifica sua ausência, prescrevendo o jeito como ele deve seguir sua vida. Após mais uma taça de vinho, ele afoga a dor da saudade, e continua: esta carta pessoal apresenta as tipologias descrição, injunção, exposição, narração e argumentação. Essa miscelânea de tipos presentes em um gênero chama-se heterogeneidade tipológica. Virei de supetão a dose de uísque restante no copo e esbarrei na memória.

Lembrei-me de uma tarde nostálgica, onde o cheiro do café coado e a boa conversa me deixava em estado de ebulição. Sim, caros colegas, recordei de uma roda de conversa onde outro nobre amigo, o Senhor Luiz Carlos Travaglia falou sobre essa mistura de tipos textuais fundida em um gênero predominante, ele definiu de conjugação tipológica. Travaglia, ao saborear o café forte, também comentou sobre o intercâmbio de tipos; ele afirma que um tipo pode ser usado no lugar de outro tipo, para exemplificar, ele fala de descrições e comentários dissertativos feitos por meio da narração. Marcuschi interrompe meu momento memorial oferecendo-me um charuto cubano e retrucando em pequenas pausas, enfatiza: o fenômeno de um texto ter aspecto de um gênero, mas ter sido construído em outro, denomina-se intertextualidade intergêneros. Entre uma e outra baforada de fumaça ele explica que isso acontece porque ocorreu no texto a configuração de uma estrutura intergêneros de natureza altamente híbrida, sendo que um gênero assume a função de outro. Fiquei em primeiro momento um pouco confusa, mas depois tudo foi cristalizado. Cessamos então nossa bebedeira e nos despedimos com um brinde hibrido de vinho e uísque.  Ao retornar para casa, perlustro caminhos, passo por vilas e vielas, e vejo na praça do bairro da minha antiga residência uma roda de conversa, um bate papo juvenil. Ao visualizar tal acontecimento aproximo-me, sento, não falo e me faço ouvinte destas línguas falantes.

      Caro leitor, ao observar esta inesgotável fonte discursiva, ouso dizer que este embate de diferentes teorias dificilmente mostrará alguma produtividade, ficando visivel uma compreensão dicotômica de amabas terminologias.  Desta forma não é errôneo afimar que os gêneros efetivamente são tanto discursivos quanto textuais. De acordo com o filósofo russo Mikhail Bakhtin (2010[1952-53;1979]), todas as esferas da comunicação humana estão entrelaçadas, por meio dos usos da linguagem e devemos compreender que as especificidades e as formas desses usos sejam proporcionais à infinidade de espaços sociais. Deste modo o discurso é constituido por gêneros que se diferenciam de acordo com o contexto situacional do locutor e interlocutor.

Atedendo aos propósitos de compressão dos temas abordados neste artigo, lanço mão do “discurso metafórico” para concluir, ainda que de forma superficial o enredo discursivo aqui apresentado. Gêneros textuais, Gêneros discursivos e Gênero do discurso são raízes que sustentam a mesma árvore da comunicação humana. Seus frutos podem ter gostos distintos, que são detectáveis ou não quando colocados a uma salada de frutas, que é servida à língua e seus falantes.

 

Natália Tamara Cerqueira da Silva.

 

Natália Tamara - Graduanda em Letras/Literaturas (UNEB). Agente Cultural, Técnica em Segurança do Trabalho (FIESC-SENAI). Roteirista. Membro de algumas Arcádias Literárias. Organizadora e Coautora de Antologias. Membro do Grupo de Pesquisa em Linguagem, Estudos Culturais e Formação do/a Leitor/a - (LEFOR). Coordenadora do projeto Bardos Baianos – Território Sisal. Detentora de alguns títulos, e prêmios literários. Atuou como Coordenadora de Cultura da Cidade de Saúde/BA.

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