É com tamanha satisfação que compartilho com
vocês as sensações de desbravar o interior subterrâneo do conhecimento
linguístico. O processo de descoberta e transformação é, sem dúvidas, a maior
aventura do mundo; ouso dizer que a manifestação linguística é resultante de
uma atividade intelectual, a qual permite uma transfusão de sangue O Positivo,
para que se tenha sucesso em um complexo procedimento cirúrgico denominado de
neurolinguística.
Nos últimos anos,
principalmente, muito se tem discutido a respeito dos gêneros. A distinção de
conceitos coloca em evidência uma
discussão teórica sobre as expressões
gênero discursivo ou gênero
textual. Essas duas vertentes de
análise demonstram, segundo Rojo (2005), que há diferenças de método e de
concepção. Aqueles que adotam os gêneros discursivos darão prioridade para a
significação dos enunciados, para a acentuação valorativa e o tema,
perceptíveis por meio das marcas linguísticas, pelo estilo e pela forma
composicional do texto. Em contrapartida, para aqueles que adotam os gêneros
textuais, a significação é preterida e abordada apenas em relação ao conteúdo
temático.Com o desenvolvimento da ciência da liguagem, os gêneros ganharam
ainda mais notoriedade em diversas areas do conhecimento, dentre as quais está
a Linguística. O desenvolvimento desse campo e a vasta bibliografia disponível
hoje a respeito desse tema, por exemplo, se devem, em parte, aos estudos
realizados por Bakhtin, teórico que que possui interessante concepção de
linguagem, a partir da qual decorrem conceitos como enunciação, dialogismo e a
própria noção de gêneros.
De
acordo com Silva (1999), apesar de ultilizar a terminologia gênero textual, “ a
rigor, Marcuschi opera com a mesma noção de gênero empregada na obra de
Bakhtin”, uma vez que concebe os gêneros como formas de uso da língua,
determinadas pelos objetivos dos falantes e pela natureza do tema envolvido na
situação comunicativa. Assim, conclui a autora: “A [...] diferença [entre
Bakhtin e Marcuschi] é somente de ordem terminológica, e não conceitual”
(Silva, 1999: 98). Entende-se como tipos textuais, o conjunto de
enunciados organizados em uma estrutura bem definida e facilmente identificada
por suas características predominantes. O termo tipologia textual (outra
nomenclatura possível) designa uma sequência definida pela natureza linguística
de sua composição. Diferente do Gênero Literário, o Gênero Textual é o nome que se
dá às diferentes formas de linguagem empregadas nos textos. Para se constituir
como gênero, um texto precisa apresentar: finalidade comunicativa, destinatário,
linguagem, suporte e mensagem.Marcushi (2000) chegou
a propor uma terminologia alternativa que, a seu ver, poderia se revelar mais
precisa “para eliminar as querelas teóricas sobre as distinções entre texto e
discurso e todas as disputas aqui envolvidas”. A sugestão a ser adotada em
“momentos futuros” seria ultilizar o termo “gêneros comunicativos” em
substituição a “gêneros textuais”, considerando que “textos são artefatos ou
fenômenos que exorbitam suas estruturas e só tem efeito se situarem em algum
contexto comunicativo.
Outro dia após tomar
um porre na taverna com o amigo LuisAntonio Marcuschi, pude compreender através
de suas sublimações teóricas que em todos os gêneros, os tipos se realizam,
ocorrendo, muitas das vezes, o mesmo gênero sendo realizado em dois ou mais
tipos. No auge do seu devaneio ele puxa do bolso do seu paletó uma carta
pessoal, cujo remetente é de uma antiga e efusiva paixão. A carta descreve
sobre os lugares que Lizze visitou, narra fatos que a mesma vivenciou, expõem os
motivos pelos quais está longe de seu amado, justifica sua ausência,
prescrevendo o jeito como ele deve seguir sua vida. Após mais uma taça de
vinho, ele afoga a dor da saudade, e continua: esta carta pessoal apresenta as
tipologias descrição, injunção, exposição, narração e argumentação. Essa
miscelânea de tipos presentes em um gênero chama-se heterogeneidade tipológica.
Virei de supetão a dose de uísque restante no copo e esbarrei na memória.
Lembrei-me de uma
tarde nostálgica, onde o cheiro do café coado e a boa conversa me deixava em
estado de ebulição. Sim, caros colegas, recordei de uma roda de conversa onde
outro nobre amigo, o Senhor Luiz Carlos Travaglia falou sobre essa mistura de
tipos textuais fundida em um gênero predominante, ele definiu de conjugação
tipológica. Travaglia, ao saborear o café forte, também comentou sobre o intercâmbio
de tipos; ele afirma que um tipo pode ser usado no lugar de outro tipo, para
exemplificar, ele fala de descrições e comentários dissertativos feitos por
meio da narração. Marcuschi interrompe meu momento memorial oferecendo-me um
charuto cubano e retrucando em pequenas pausas, enfatiza: o fenômeno de um
texto ter aspecto de um gênero, mas ter sido construído em outro, denomina-se
intertextualidade intergêneros. Entre uma e outra baforada de fumaça ele
explica que isso acontece porque ocorreu no texto a configuração de uma
estrutura intergêneros de natureza altamente híbrida, sendo que um gênero
assume a função de outro. Fiquei em primeiro momento um pouco confusa, mas
depois tudo foi cristalizado. Cessamos então nossa bebedeira e nos despedimos
com um brinde hibrido de vinho e uísque.
Ao retornar para casa, perlustro caminhos, passo por vilas e vielas, e
vejo na praça do bairro da minha antiga residência uma roda de conversa, um
bate papo juvenil. Ao visualizar tal acontecimento aproximo-me, sento, não falo
e me faço ouvinte destas línguas falantes.
Caro leitor, ao observar esta inesgotável
fonte discursiva, ouso dizer que este embate de
diferentes teorias dificilmente mostrará alguma produtividade, ficando visivel
uma compreensão dicotômica de amabas terminologias. Desta forma não é errôneo afimar que os
gêneros efetivamente são tanto discursivos quanto textuais. De acordo com o
filósofo russo Mikhail Bakhtin (2010[1952-53;1979]), todas as esferas da
comunicação humana estão entrelaçadas, por meio dos usos da linguagem e devemos
compreender que as especificidades e as formas desses usos sejam proporcionais
à infinidade de espaços sociais. Deste modo o discurso é constituido por
gêneros que se diferenciam de acordo com o contexto situacional do locutor e
interlocutor.
Atedendo
aos propósitos de compressão dos temas abordados neste artigo, lanço mão do
“discurso metafórico” para concluir, ainda que de forma superficial o enredo
discursivo aqui apresentado. Gêneros textuais, Gêneros discursivos e Gênero do
discurso são raízes que sustentam a mesma árvore da comunicação humana. Seus
frutos podem ter gostos distintos, que são detectáveis ou não quando colocados
a uma salada de frutas, que é servida à língua e seus falantes.
Natália Tamara
Cerqueira da Silva.
Natália Tamara - Graduanda em Letras/Literaturas (UNEB). Agente Cultural, Técnica em Segurança do Trabalho (FIESC-SENAI). Roteirista. Membro de algumas Arcádias Literárias. Organizadora e Coautora de Antologias. Membro do Grupo de Pesquisa em Linguagem, Estudos Culturais e Formação do/a Leitor/a - (LEFOR). Coordenadora do projeto Bardos Baianos – Território Sisal. Detentora de alguns títulos, e prêmios literários. Atuou como Coordenadora de Cultura da Cidade de Saúde/BA.
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