MÃOS QUE FALAM!
Já ouvi muitas vezes pessoas falarem que os olhos são o espelho da alma e que dizem o que o coração está sentindo. Esta é uma grande verdade! Muitas vezes queremos falar tantas coisas, mas a voz embarga, a boca cala e os olhos falam. Uma lágrima que teima em rolar pela face, um brilho diferente no olhar ou, até mesmo quando o olhar fica sem brilho, estes são sinais que o olhar transmite, são formas de falar que entendemos perfeitamente, mesmo quando não balbuciamos nem uma palavra.
Nem sempre os olhos fazem o papel que deveria ser da boca, o ato de falar. Parece impossível, mas é verídico, muitas vezes as mãos falam mais claramente do que qualquer palavra que possa ser dita. Quantas vezes um simples toque pode acalmar uma dor, aliviar um coração sofrido, tranquilizar uma alma aflita?!
As mãos falam sim, e muito! Um aperto de mão pode selar um negócio importante. Um afago pode diminuir uma tristeza. Um cafuné pode fazer uma criança dormir tranquilamente. Um carinho pode reavivar um coração. São tantas as formas que as mãos usam para falar! E todas são perfeitamente entendidas.
Num tempo em que se fala tanto em inclusão social, as mãos, tem uma missão ainda maior do que tudo isso, ou, tudo isso e muito mais.
Há um tempo atrás escrevi um artigo sobre autismo, penso ser muito importante falar sobre tudo o que causa exclusão, preconceito e tristeza. Ser autista nada mais é do que ter um mundo só seu, particular, um mundo em que os indivíduos são extremamente inteligentes e não devem ser tratados como anormais. Os autistas são tão normais como você e eu, a única diferença é que eles tentam nos entender, mas nós não os entendemos e muitas vezes nem tentamos.
Da mesma forma, existe outro grupo de pessoas que também tentam nos entender, mas nós muitas vezes os ignoramos, excluímos. Você sabe de quem estou falando?
Poderia estar falando de muitas coisas porque, infelizmente, há muito preconceito sobre diversas coisas que, por ignorância da nossa parte, não compreendemos.
Mas hoje, estou falando de pessoas que, literalmente, falam com as mãos. Há um grupo de pessoas, bem grande por sinal, chamados grupo de surdos. Não devem ser chamados de “surdinhos”, “surdos-mudos”, ou qualquer outro apelido que possamos lhes dar. Eles simplesmente nasceram surdos, ou se tornaram surdos, mas assim como os autistas, eles são inteligentes, hábeis como qualquer pessoa dita normal. E, detalhe, eles falam! Falam com os olhos, falam com as mãos, e querem ser entendidos.
Temos a mania de achar que porque alguém tem alguma maneira especial de ser, não vamos entendê-lo, ou ele não vai nos entender, então nos afastamos, ou pior ainda, o afastamos de nós.
Que triste isso! Todos somos iguais em nossas diferenças.
No Brasil existe uma comunidade bem grande de surdos e, felizmente agora existe uma nova forma de linguagem que aos poucos está sendo ministrada a todos para que haja uma conversação entre ouvintes e não ouvintes. Esta língua se chama LIBRAS, língua brasileira de sinais. Esta é a língua que ensina a falar com as mãos. Legal, não é mesmo?
Percebeu como é possível falar com as mãos? Agora, além de falar com as mãos através de um carinho, de um gesto, de um aperto de mão, também temos o poder de conversar, de falar um texto inteiro através das mãos. De entender e nos fazer entendidos em qualquer situação, de falarmos com quem pode nos ouvir e com quem pode interpretar nossos sinais. Considero esta maneira de falar incrível, maravilhosa. O que você pensa sobre isso?
Para quem ainda não está muito a par deste assunto ou simplesmente não conhece ninguém surdo, por isso não mostra interesse pelas mãos falantes, sugiro que assista ao filme “No Ritmo do Coração”. Este filme foi ganhador de três Oscar, é maravilhoso. Ao assistir ao filme, você vai entender o que estou falando, vai entender a importância de tentar entender o outro não importando quais sejam suas diferenças ou limitações.
Podemos questionar o porquê de nós termos que aprender libras, quando o surdo poderia aprender a se comunicar conosco, mas se pensarmos com clareza e amor saberemos dar esta resposta a quem quer que nos faça tal pergunta. Nascemos ouvintes, aprendemos a falar, temos facilidade de nos comunicar, podemos ouvir o que cada sinal significa, podemos falar, emitir sons e ainda usar as mãos para falar, enquanto que eles não ouvem, em consequência, a maioria, não fala. Muitas vezes precisam de interpretes para poderem se comunicar. Os surdos, ao contrário do que se pensa, não são uns “coitadinhos”, eles são pessoas normais que não ouvem, mas que podem e fazem tudo o que você ou eu fazemos.
Então amigos, acreditam agora que as mãos falam?
Estou em processo de aprendizagem de libras, mas aconselho a tantos quanto possível, que aprendam a falar com as mãos. Não só falar em libras, mas falar com as mãos a linguagem do carinho, do afago, da responsabilidade.
Como é bom quando estamos passando por um momento delicado, por vezes triste e alguém nos estende uma mão amiga! Este simples gesto pode mudar uma vida, uma situação. E quando estamos ansiosos por fechar aquele negócio dos sonhos e uma mão se estende e confirma que está tudo certo, negócio fechado.
Agora imagine quando tudo o que a pessoa a sua frente anseia é que você de um sorriso e abra sua mão em uma conversação amigável, de igual para igual, pode imaginar?
Mãos que falam! Acredite, elas podem falar e quando querem podem falar muito!
Deus deu um dom para cada pessoa, todos temos pelo menos um, mas há coisas que Deus dá o dom e nós temos que aperfeiçoar. Falar é um desses dom. Todos temos esse dom, só precisamos descobrir de que forma vamos manifestar.
Ninguém nasce falando. O dom vem com todos nós, mas temos que aprender a usá-lo. Seja emitindo sons, escrevendo ou fazendo sinais com as mãos, estamos aproveitando com sabedoria o precioso dom que o Ser Supremo nos deu de graça, o dom de falar!
Fale
com as mãos, com os olhos, com a boca, mas fale principalmente com o coração.
Tania Costa é escritora desde a adolescência, mas
conseguiu realizar seu sonho de infância em 2020 quando publicou seu primeiro
livro A Fazenda das Borboletas pela Editora UNISV.Publicação autorizada
Nascida em São José do Norte, vinda de família humilde, extremamente tímida, sempre teve muito gosto pela leitura, quando não estava na escola passava horas lendo. É presidente de uma ONG que trabalha com crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade.
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