quarta-feira, 1 de junho de 2022

REFLEXÃO POR TANIA COSTA


 

QUANDO É PRECISO CHORAR!                                                                                  

Vivemos em um mundo em que tudo tem que ser perfeito. Nada pode parecer, ou ser, diferente, onde quem tem mais inibe o que tem menos.
Desde criança, ouço frases desse tipo, e isso causa uma aflição, uma tristeza na alma. O pior é que, na maioria das vezes, este é um fato real.
Na escola, onde deveria ser o meio mais sociável, onde todas as crianças fossem consideradas iguais, brincassem todas juntas, já se percebe as diferenças.
Certa vez, havia uma menina linda, doce, educada, mas pobre, bem pobre, que estudava em uma escola pública, o que não poderia ser de outra forma devido às condições dos pais que possuíam outros filhos e a situação financeira bem complicada, mas havia muito amor entre eles.
Essa menina era tímida, não costumava se enturmar possuía uma inteligência bem peculiar. Seus professores notavam que ela era sábia e tentavam agrupá-la, mas ela não se sentia confortável, preferia fazer os trabalhos sozinha e colocar o nome dos colegas.
Na mesma sala, havia outras duas meninas que eram de uma posição social melhor, estudavam na mesma escola por ser a única existente na pequena cidade de interior. Elas eram filhas dos maiores empresários da cidade, talvez os únicos. A menina inteligente, mas tímida, nutria uma admiração por elas. Elas possuíam pastas lindas, enquanto ela levava os cadernos em sacos plásticos, normalmente de arroz ou açúcar. A pequena não tinha inveja das colegas, essa era uma palavra que não fazia parte de seu vocabulário, o que ela tinha era realmente admiração. Dona de um coração puro, o que ela mais queria era que não houvesse tanta desigualdade, que todos fossem iguais, que as outras coleguinhas também possuíssem lindas pastas escolares, mesmo que ela continuasse levando seus cadernos em sacos de açúcar.
Quieta, em seu canto, ela tentava mostrar sua amizade com pequenos gestos como um sorriso, ou um trabalho bem feito, onde colocava o nome do grupo.
Ao longo da vida, ela conseguiu amigas maravilhosas, que a entendiam e compartilhavam de seus pensamentos, mas as duas meninas “ricas”, materialmente falando, nunca deram chance a ela de mostrar seu valor, sua amizade sincera, independente de classe social.
A menina cresceu, cultivou grandes e lindas amizades, mas não as daquelas meninas que tanto admirava e sonhava um dia ser igual. Elas pareciam tão perfeitas!
A menina, agora adulta, mudou de cidade, tocou sua vida. Alguns anos depois ela voltou a sua terra natal, estava diferente de certa forma. Continuava tímida, humilde de coração, e com grandes sonhos e projetos em andamento de ajudar os mais necessitados. Agora ela era “popular”, conhecida, havia realizado quase todos os seus sonhos e continuava batalhando pelos que ainda não havia alcançado. Seu coração continuava puro, sem sentimentos de rancor, mas, bem no fundo, havia algo preso, sufocado.
Então, numa dessas idas a sua terra natal, ela viu uma das meninas, agora adulta. Gostaria de ter visto as duas, mas viu apenas uma, aquela que ela mais admirava. Ela continuava igual, parecia que o tempo não havia passado para ela. Continuava linda, bem vestida, mas parecia que nada havia mudado na sua vida, continuava a mesma pessoa. Ao vê-la, veio à tona antigos sentimentos, aqueles que sempre a perturbaram. Sentimentos de inferioridade, de tristeza, de mágoa. A menina “rica”, como chamava, quando se referia a ela, não a reconheceu, talvez porque estivesse diferente, havia um novo brilho no olhar e na vida daquela menina pobre.
Seu primeiro impulso foi o de se esconder para que ela não a visse, mas mudou de ideia e passou a seu lado. Tentou esboçar um sorriso em forma de cumprimento para ver se ela a reconheceria, mas ela nem sequer a notou. Nesse momento, a menina pobre sentiu como se estivesse na escola, naquele tempo em que tentava se achegar a outra com o mesmo sorriso e ela a afastava.
Foi aí, que percebeu que quem estava errada era ela mesma, e não a menina que lhe causava admiração, então sentiu vontade de chorar, e até chorou escondida em seu quarto mais tarde. Havia chorado quando criança pelo desprezo que lhe transmitiam, mas dessa vez chorou por outro motivo que nem ela mesma conseguiria explicar. Percebeu que ela se desvalorizava quando ficava tentando atrair a atenção das outras, que se menosprezava quando fazia um trabalho escolar perfeito e não permitia que os colegas participassem por medo de que o que estivesse apresentando ao professor não fosse ficar bom.
Ao levar seu material em um saquinho de arroz ou açúcar, ela estava aprendendo o valor de se adquirir as coisas com o próprio esforço, estava valorizando o empenho que seus pobres pais faziam para que não faltasse o alimento e, principalmente, o estudo. Talvez aquelas que ela julgava superiores não tivessem o mesmo grau de educação, de sabedoria, de amor. Ou, talvez, até tivessem, porque o que faz a pessoa não é o que ela possui, mas quem ela é em seu interior.
Às vezes é preciso chorar, lavar a alma, enxergar o que às vezes não enxergamos.
Ninguém é melhor, ou mais bonito do que ninguém! Minha avó costumava dizer que, “quem ama o feio, bonito lhe parece”. Um dito popular de grande sabedoria creio eu. Não existe melhor ou pior, mais bonito ou mais feio, em se tratando de pessoas. Existem pessoas de bom caráter e pessoas de má índole.
Quando é preciso chorar? Quando é preciso chorar, cada um sabe do que sente, do seu momento!
Em minha vã filosofia, dou apenas um conselho, chore sempre que for preciso! Chorar faz com que as janelas da alma fiquem limpas. Chore de alegria, de emoção, de amor, de saudade, e até mesmo de tristeza, se for o caso. Chorar alivia o coração, não é vergonhoso, é saudável.
Não permita a você mesmo se inferiorizar, seja você mesmo, com seus bens ou a falta deles, com seus medos, com suas características pessoais que só você é capaz de ter.
Somos todos iguais e somos todos diferentes ao mesmo tempo. Todos temos um dom que vem de Deus, independente de classe social. Vamos conviver mais com todas as pessoas. Você nem imagina o que pode haver de bom por trás de um sorriso, por trás de uma amizade verdadeira. Não olhe para o que lhe parece ser, olhe para o que é verdadeiro.
Ame, viva, chore!
 
Tania Costa.
 
Publicação autorizada

Tania Costa é escritora desde a adolescência, mas conseguiu realizar seu sonho de infância em 2020 quando publicou seu primeiro livro A Fazenda das Borboletas pela Editora UNISV.
Nascida em São José do Norte, vinda de família humilde, extremamente tímida, sempre teve muito gosto pela leitura, quando não estava na escola passava horas lendo. É presidente de uma ONG que trabalha com crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade.

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