João do Rio, no livro “A alma encantadora das ruas”, apresenta-nos um pequeno quadro, carregado em tintas, da sociedade carioca, suas ruas, seus bordéis, a prostituição, o homossexualismo, as tabernas, as cercanias do porto.
Por outro lado, existia um Rio
de Janeiro que organizava grandes espetáculos, recebia companhias de teatro
europeu, shows musicais e os próprios artistas nacionais eram incentivados,
inclusive financeiramente, para que montassem seus espetáculos. No entanto, o
público era diminuto e, em duas ou três semanas, todas as famílias abastadas do
Rio de Janeiro já haviam assistido à peça em cartaz, o que obrigava que, em
ritmo frenético, novas peças teatrais estreassem em continuidade.
Descaracterizadas, mantendo o
roteiro básico, que, aos poucos, ia sendo adaptado; com a redução do grupo de
artistas, afinal, os principais atores permaneciam no Rio de Janeiro, ensaiando
e encenando novas peças; diminuindo o aparato cênico para que se facilitasse o
transporte nas precárias estradas da época, essas peças e os seus responsáveis
saíam a excursionar pelo país. Porém, quanto mais distantes do centro do país
ou das grandes cidades/capitais, mais se empobrecia o cenário, mudava o elenco,
de tal forma que nos mais diversos rincões do país, quem, efetivamente, levou
notícias da cultura pátria ou de adaptações de textos teatrais estrangeiros
foram as companhias itinerantes.
Neste sentido, é preciso
reconhecer os seus esforços: dos pequenos circos excursionando pelo país, que,
em seu início, muitas vezes, ofereciam o picadeiro para salão de baile,
inexistente nas comunidades; dos teatros mambembes que levavam ao conhecimento da
população interiorana nomes como Shakespeare, Alexandre Dumas, Amaral Gurgel,
que, naqueles tempos, em que o rádio “engatinhava” entre nós, talvez demorassem
décadas para chegar ao conhecimento do público. A exemplo do Teatro Serelepe,
objeto da minha tese de doutorado, eles movimentavam o comércio local – aluguel
de casas para que os artistas residissem, compras de alimentos, abastecimento
de um ou dois carros, além do intercâmbio nas escolas, nos jogos de futebol (em
geral, os teatros tinham um time de futebol – de campo ou de salão),
estabelecendo uma dinâmica única naquelas cidadezinhas sem grandes atrativos
culturais.
ELAINE DOS SANTOS
Autora do livro Entre lágrimas e risos: as representações do melodrama no teatro itinerante (2019).
Cronista, participa de antologias nacionais e internacionais.
Natural de Restinga Seca/RS. Possui doutorado em Letras (UFSM/2013) com ênfase em Estudos Literários. Foi professora de Língua Espanhola e Literatura. Atuou nos ensinos médio e superior, predominantemente, na disciplina de Literatura.
É revisora de textos acadêmicos (projetos, artigos, dissertações, teses).Autora do livro Entre lágrimas e risos: as representações do melodrama no teatro itinerante (2019).
Cronista, participa de antologias nacionais e internacionais.
Membro da Alpas 21 Academia Literária de Cruz Alta/RS; da Academia Internacional União Cultural de Taubaté/SP, da Academia Internacional Mulheres de Letras e da Academia Intercontinental Sênior de Literatura e Arte.
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